CUC – Contemporary Urban Culture
Interdisciplinary Platform for Urban CultureRe-imagining the city…
Yes, as Spanish architects Espai MGR suggest, habits make us blind.
So, we will always need some détournement, even if a childish one, to look afresh onto our cities.
Cidade Aumentada
Como se pergunta hoje no Arch Daily, passará por aqui o futuro da realidade aumentada e dos seus impactos sobre a concepção do urbano?
Pessoalmente, creio que, estando este campo ainda na sua infância, não conseguimos sequer imaginar quais as consequências que esta tecnologia poderá ter na nossa imaginação, desenho e uso das cidades…
Viagem ao Oriente
De regresso de Macau, Shanghai, Beijing e Hong Kong, não resisto a publicar um primeiro link sobre a “observação e documentação” da beleza quotidiana e não desenhada dos contextos urbanos da Ásia…
© cheungvogl, via DesignBoom.
Terra desolada
A península de Kola, no extremo noroeste da Rússia, na fronteira com a Noruega e a Finlândia, teve enorme importância estratégica para o exército soviético. Centenas de bases militares foram sendo implantadas em Kola durante o período da Guerra fria, aproveitando o acesso directo desta região ao Atlântico norte. Pequenas cidades cresceram em torno dessas bases, apesar da exiguidade de recursos naturais, a agressividade do clima e a inexistência de serviços nesta área.
Nesta terra de tundra e renas, montanhas áridas e minérios, tribos Sami e Pomor, jazem mais de 250 reactores nucleares navais desactivados, produzidos e abandonados pelo exército soviético.
A partir da década de 1990, o desmantelamento deste poderio militar forçou o abandono de muitas destas bases – os militares desertaram e as suas famílias foram aos poucos esvaziando as cidades, agora desoladas ruínas urbanas, sem habitantes, sem visitantes.
Napoli, Napoli
E ainda, na programação
Cities on Speed #4
Cidades Ferais
A noção de cidade feral – de uma cidade em estado de regressão a nível físico, social e político que evoca a descrição da Europa urbana daqui a 40 anos em White Fungus de Bruce Sterling – surgiu primeiro num artigo de estratégia militar da autoria de Richard J. Norton.
Trata-se de um paper que mais parece ficção e que é hoje considerado uma peça académica de referência.
Para além das cidades descritas por Norton, também há megalópoles que já foram perfeitamente afluentes – ou ainda o são – e revelam por vezes estranhos sinais de regressão, como acontece nas agora chamadas penthouse slums, em Hong Kong.
Noutros casos, e como é agora veiculado por um documentário – e respectivo artigo no Guardian – da autoria de Julien Temple, essa feralidade dá origem a novas e interessantes formas de apropriação social da cidade, como está a acontecer naquela que já foi a capital da indústria automóvel americana: Detroit.
É neste sentido, afinal, que também a série Emergent Megalopolis é pensada.
Mesmo nos meios urbanos mais aparentemente desesperados a necessidade é novamente a mãe da invenção e algumas situações com que aí se depara mais parecem tubos de ensaio para realidades que podem atingir as nossas cidades… e mais depressa do que se imagina a partir do nosso relativo conforto material e económico.
Panoramas Urbanos
Se por acaso não estiverem de passagem por Los Angeles durante os próximos meses, vale a pena ver a apresentação web da exposição Urban Panoramas, actualmente no Getty Center.
Ver os pequenos vídeos auto-explanatórios dos artistas vale particularmente a pena pela pedagogia do olhar urbano que estes representam.
Mais que a contemplação de imagens descontextualizadas pelo seu mero impacto estético, vale a pena compreender o projecto de olhar que existe por detrás de cada obra.
No fundo, isto faz toda a diferença relativamente a exposições que desprezam educar ou comunicar com o seu público.
A paisagem e o resto
Esta semana fui convidado a participar num encontro do Projecto Farol, um Think Tank promovido pela Deloitte que aparece como mais uma iniciativa da “sociedade civil” destinada a abordar a competitividade futura de Portugal…
O meu modesto contributo para esta sessão sobre Cultura baseou-se em dois alertas ou inquietações.
Primeiro, quando procuramos modelos “lá fora” para definirmos onde queremos estar daqui a 15 anos, tendemos a esquecer que “lá fora” também se planeia onde se deseja estar daqui a 15 anos, normalmente com a vantagem de se partir com maior avanço e mais tradição estratégica. Deste modo, se não partirmos para o futuro a duas velocidades – reflectindo a metáfora médica de Delfim Sardo sobre a simultaneidade dos “cuidados primários” e aquilo que eu chamaria, mais bem, os “cuidados intensivos” – nunca “apanharemos” as lebres…
Segundo, se queremos estar a produzir cultura relevante e competitiva daqui a 15 anos temos não só que promover formas culturais emergentes – algo singularmente difícil num país indubitavelmente conservador – mas temos também que tornar mais atractiva a paisagem cultural portuguesa…
E, especialmente, temos que tornar o panorama atractivo para os seus potenciais agentes e para aqueles que já foram enredados no proliferante ensino superior das áreas do Design (actualmente mais de 40 cursos) e da Arquitectura (hoje com cerca de 35 cursos) no nosso país.
O nosso “problema,” justamente, é que, pelo meio de muito “choque tecnológico”, esta mole de gente não encontra aqui oportunidades para a pesquisa, a investigação, e exploração de novas linguagens e possibilidades e, assim, enceta uma nóvel forma de emigração qualificada que despojará Portugal do seu capital humano de forma mais radical do que aquela que imaginamos.
Como avisava Luís Campos e Cunha na mesma sessão, não podemos “obrigar” estes “emigrantes” a regressar e, assim, corremos o risco de perder a margem de esperança que as estatísticas nos oferecem para o futuro – nomeadamente pelo crescimento humano do sector criativo em Portugal -, particularmente quando queremos reconhecer e incentivar as contribuições da Cultura e da criatividade para o PIB e outros indicadores que tal.
Curiosamente, esta perda de capital humano encontrava eco naquele que foi o contributo mais original da reunião, o do paisagista americano de Harvard, Carl Steinitz.
Conquanto Steinitz estivesse ali para vender o seu peixe – ou melhor, e como defenderei noutros contextos, estivesse ali, e bem, a vender o seu modelo de cana de pesca – a sua análise sem papas na língua do desfeamento da paisagem como factor de perda de atractividade e competitividade devia, de facto, alertar os portugueses. Como, pelos vistos, já começou a inquietar os espanhóis da Generalitat de Valência para os quais Steinitz realizou os seus estudos.
Steinitz, no fundo, propõe uma análise da apreciação da paisagem baseada num censo alargado e depois avança medidas estratégicas, protectivas ou de redesenho, para os “cuidados intensivos” que essa paisagem pode requerer.
A metodologia de abordagem proposta por Steinitz lembrou-me um estudo interdisciplinar ainda inédito que a CUC realizou para a Bienal da Maia de 1999 a convite de António Cerveira Pinto, propondo nessa ocasião uma mui Antoninana “Identificação de uma Cidade.”
Porque é que esse estudo de há uma década permaneceu inédito? Porque a Câmara da Maia preferiu pagar para impedir a sua publicação – já que as propostas então apresentadas, com base num estudo abrangente da “imagem da cidade”, iam contra as políticas urbanas então em implementação…
Talvez entretanto o meio tenha amadurecido e o élan de Steinitz seja suficiente para que, hoje, estas mesmas análises da paisagem cultural e urbana sejam bem acolhidas e pagas por algum organismo estatal. Mas, entretanto, passaram-se 10 anos sobre o desejo de preparar o futuro.
É por estas e por outras, de resto, que a paisagem da produção cultural em Portugal se torna inóspita e que os que querem contribuir para o futuro preferem emigrar…
Mega-som-poles
O álbum Megapoles é uma obra de música de câmara contemporânea fermentada a partir dos sons coleccionados por Bruno Letort e Stephan Rodesco nas ruas de Nova York, Londres, Paris, Moscovo, Bombaim e Tóquio, acompanhado de um livro que refaz esse itinerário num sampling de texto e imagens de artistas (Isao Tanaka, July Heart, Valery Anisimov, Charles René et Fayçal Ben Arbia).
Aqui capa de Schuiten (Naive Classique, 2000), uma menção deliberada a Urbicande.